Dos 21 deputados federais investigados na Operação Lava Jato, apenas 2 foram eleitos com votos nominais e diretos. O restante não alcançou o quociente necessário na eleição de 2014
Foto por Helena Wolfenson.
Dos 21 deputados federais investigados na Operação Lava Jato, apenas 2 foram eleitos com votos nominais e diretos. O restante não alcançou o quociente necessário na eleição de 2014, mas acabou entrando na Câmara de carona em votos "herdados" de colegas mais populares da mesma coligação.
O caso mais flagrante é o do PP (Partido Progressista), de onde vêm 18 dos 21 deputados federais investigados. Apenas um deles, Eduardo da Fonte (PP-PE), entrou sozinho – os outros 17 se beneficiaram de votos excedentes vindos de colegas de legenda como Jair Bolsonaro (PP-RJ), o mais votado do Estado do Rio de Janeiro, que obteve 464 mil votos, quatro vezes mais que o necessário para garantir uma vaga em seu Estado. O segundo eleito com votos próprios na lista da Lava Jato foi Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com mais de 200 mil votos.
Nós explicamos em outubro, durante a cobertura de eleições, como funciona esse esquema. A distribuição de votos "excedentes" obedece a lógica "daquelas pilhas de taças de champa em casamento: você joga a champa no topo e ela vai descendo pirâmide abaixo. Quando enche uma taça, automaticamente escorre para as taças que estão na base. Cada coligação é uma pirâmide de taças: seus "Tiriricas", como ganham muitos votos, ficam no topo e, quando eles têm votos suficientes para encher a própria taça começam a escorrer para as que estão logo abaixo, distribuindo os votos excedentes dentro da coligação. Assim, por exemplo, se você é candidato na mesma coligação do Tiririca e recebeu 299 mil votos, não se elegeria por conta própria. Mas, como é o segundo mais votado, logo abaixo do Tiririca, ele te passa um voto excedente. E segue fazendo isso com todos os que vêm logo atrás de você, até que o excedente esgote. É meio complicado, mas é por aí."
A lista da Lava Jato é composta por 49 políticos. Desses, 34 têm mandato no Congresso, sendo 21 deputados federais. Na eleição passada, só 36 dos 513 deputados federais entraram sem a ajuda dos votos da legenda.
"Quando alguém puxa votos para candidatos do mesmo partido não é tão grave porque, pelo menos em tese, deveria haver afinidade de doutrina, de programa. O que está errado, muito errado, é quando isso acontece na coligação. Você vota em alguém de um determinado partido, mas esses votos acabam beneficiando alguém de um outro partido", nos explicou durante as eleições Antônio Augusto de Queiroz, do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), órgão que desde 1983 faz o monitoramento do Congresso Nacional para um grupo de 900 entidades sindicais de trabalhadores.
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